Autoridades e 15 mil pessoas se despediram do ex-presidente Itamar Franco; cremação será hoje em Belo Horizonte
Juiz de Fora, MG. O corpo do ex-presidente da República e senador Itamar Franco (PPS-MG) foi velado durante todo o dia de ontem e parte da madrugada de hoje na Câmara Municipal de Juiz de Fora (MG). O caixão chegou ao local por volta das 11h18 e foi muito aplaudido por 500 pessoas que esperavam em frente ao prédio.
Itamar morreu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado desde o dia 21 de maio, para tratamento de leucemia.
Do Aeroporto da Serrinha até a Câmara Municipal de Juiz de Fora, o corpo foi transportado em cima de um caminhão do Corpo de Bombeiros, sempre aplaudido pelas ruas.
As duas filhas de Itamar, Georgiana e Fabiana, acompanharam a chegada do caixão, no Aeroporto da Serrinha, junto com o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), e o senador Aécio Neves (PSDB). Elas choraram muito quando o corpo do pai chegou à Câmara de Vereadores, em carro aberto do Corpo de Bombeiros, acompanhado de 18 batedores da Polícia Militar.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou 35 minutos no velório, onde conversou com o presidente do Senado, José Sarney, e com o vice-presidente da República, Michel Temer.
Durante 20 minutos, as principais figuras políticas que protagonizaram episódios que levaram Itamar à Presidência, em 1992, estiveram juntas no velório: o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que na época presidia a União Nacional dos Estudantes (UNE), e o senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos líderes do movimento pró-impeachment de Collor no Congresso Nacional.
Michel Temer falou com os jornalistas ao deixar o velório. "Um grande brasileiro. O presidente Itamar Franco deixa um exemplo de dignidade, de coerência ao longo da vida, especialmente em matéria de administração e política. É um exemplo para todos nós que temos vida pública", afirmou.
Também participaram do velório, o ex-deputado Fernando Gabeira, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o presidente do DEM, senador Agripino Maia, o senador Magno Malta (PR-ES) e o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante (PT-SP).
"Ele marcou o País numa época em que se comprava o leite pela manhã por um preço, e à tarde, por outro. Foi um homem corajoso", ressaltou Malta.
Emoção
Já Pedro Simon deu um depoimento emocionado sobre o ex-presidente. "Acompanhei todo o seu mandato e posso dizer que se tratava de uma pessoa fantástica. Não existe ninguém mais sequer parecido com ele", destacou ele, que foi líder do governo de Itamar.
Simon ainda destacou uma situação pessoal de Itamar e fez uma crítica às atitudes dos representantes atuais. "Ele pagava do próprio bolso os medicamentos que sua mãe usava. Ele anotava tudo. E de dois em dois meses convocava o Ministro da Saúde para reclamar de como os preços disparavam", declarou.
A presidente Dilma Rousseff (PT-RS) vai comparecer ao velório hoje, no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. O corpo de Itamar será cremado hoje.
GRATIDÃO
15 mil pessoas se despedem de Itamar
Juiz de Fora. Após uma cerimônia fechada para os familiares de Itamar Franco e autoridades, o velório foi aberto para a população. Até o fim da tarde de ontem, 15 mil pessoas já haviam passado pelo local para se despedir do ex-presidente, segundo a Polícia Militar. O velório ia continuar durante a madrugada, e a expectativa era de que esse número dobrasse.
Adão de Assis Ferreira, 47 anos, foi o primeiro a chegar na fila para o velório. Não fazia questão da primazia, queria apenas se despedir do político que lhe deu seu primeiro tênis quando ainda era criança. "Um dia, no palanque, pedi para ele um par de tênis. Nunca tinha ganhado nenhum. E ele me deu. Fico muito emocionado. Era um homem que eu admirava muito", contou Adão.
Duas senhoras que saíram do Rio de Janeiro para participar do velório também se sentiam muito gratas a Itamar. O ex-presidente não havia lhes dado presentes, mas devolvido seus empregos. A auditora Sarah Land, 69, e a economista Lídice Meirelles, 67, fazem parte do contingente de mais de 450 mil servidores demitidos do governo federal durante a gestão de Fernando Collor de Mello. Apresentaram-se no velório como representantes dos anistiados da Lei 8.878 de 1994 - legislação surgida a partir de medida provisória assinada por Itamar.
"Vim do Rio especialmente para ver essa alma santa. Ele é como um parente, um paizão que nós perdemos", disse, entre lágrimas, Sarah. "Um homem muito íntegro em suas posições e que foi rápido para nos ajudar", atestou Lídice. As duas levaram 20 anos para serem reintegradas ao serviço público.
O aposentado Walter Assis, 55, foi apoiado numa bengala para se despedir de Itamar. Ele participou de obras realizadas pelo então prefeito de Juiz de Fora, no fim dos anos 60 e no início dos 70. "Um político que vai deixar saudades. Algo muito raro hoje em dia", afirmou.
Reações
População aplaude Lula e vaia Collor
Juiz de Fora. Três ex-presidentes chegaram juntos à Câmara dos Vereadores de Juiz de Fora (MG) para o velório do presidente Itamar Franco: José Sarney, Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva.
Enquanto Lula foi aplaudido pela população em frente ao prédio, o senador Fernando Collor (PTB-AL) foi vaiado.
Os três se aproximaram do caixão acompanhados do vice-presidente Michel Temer, dos senadores Magno Malta (PR-ES), Renan Calheiros (PMDB-AL), Lindberg Farias (PT-RJ), do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), e do ministro Aloizio Mercadante.
Collor e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) saíram juntos do velório, foram novamente vaiados pela população e ainda ouviram gritos de “pega o ladrão” de alguns populares.
Depois de Juiz de Fora, o corpo do ex-presidente seguirá para o Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas Gerais, onde será velado hoje e depois cremado. As cinzas serão levadas novamente para Juiz de Fora e colocadas no túmulo da mãe do ex-presidente.
Itamar Franco, presidente da República de 1992 a 1994, estava internado no Hospital Israelita Albert Einstein desde o dia 21 de maio e permanecia licenciado de suas atividades no Senado. Nos últimos dias, o senador apresentou um quadro de pneumonia grave e foi transferido para a UTI. Nas últimas horas de vida, foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) e entrou em coma.
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